domingo, 16 de março de 2008

DEZEMBRO DE 2007
O fim do ano de 2007 se aproxima e, com ele, uma certa euforia parece tomar conta de muita gente. Aqui e ali dá para ouvir alguém comentando que 2006 “não vai ser igual àquele que passou”.

O verso é de uma canção de carnaval e parece denunciar o risco de se vestir uma desajustada fantasia que, como toda fantasia usada fora do carnaval, é ilusória. Ilusória como a máscara cega que colocamos no rosto e que repete como um mantra desatinado que ao ultrapassarmos a meia-noite do dia 31 de dezembro tudo se transformará ao som dos fogos de artifício, do estouro das champanhes, dos iú-rú, dos tin-tins e dos abraços frenéticos: truques que escondem a necessidade de se juntar coragem para rever e rever o caminho percorrido, pois “se muito vale o já feito, mais vale o que será... E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir”, para melhor organizar a nova experiência, um ano novo... mais e mais belo. Devemos “(falar) assim sem tristeza, (falar) por acreditar que é cobrando o que fomos que nós iremos crescer... e (assim) outras manhãs (virão) plenas de sol e de luz”.

De fato, esta é uma boa oportunidade de (re)organizar um novo ano verdadeiramente diferente. Esta revisão pode – e deve – ser feita com alegria e ternura, com respeito pela condição humana que carrega em si, inerente, a condição de errar.

Contudo, infelizmente, não parecemos aceitar esta possibilidade com a devida naturalidade, aparentemente nem mesmo percebemos o alívio que ela proporciona. De fato, a negamos, nos exercitamos, arduamente, para o impossível: não errar. Vamos, neste exercício, tentando construir uma enganosa e, esta sim, frágil impossibilidade de errar. Esquecidos do “errar é humano” buscamos uma espécie de endeusamento, falsa divinização, um poder não humano, desumanizado, egocêntrico que, escondida a pureza original, sufoca e destrói.

Agimos assim pára não expor o que chamamos “fraquezas”: insegurança, falta de confiança, medo de errar, medo do abandono, da solidão... e quantos mais destes tão humanos sentimentos e suscetibilidades partilhados por todos e sentidos por cada um de uma única forma.

Com estes conceitos bem presentes vamos rever os três meses de trabalho do Projeto de Gente em Cumuruxatiba. Três meses de trabalho construídos por dentro da inexperiência, da ingenuidade, do crédito exagerado na simples boa intenção, da necessidade de uma equipe mais coesa em relação aos pilares básicos do projeto, das condutas conflitantes, da dificuldade de realização de encontros entre os voluntários e, por isso, da má costura entre os sonhos pessoais o que resultava num tecido de sustentação esgarçado, da falta de recursos, da falta de comunicação rápida e eficiente com a Associação no Rio de Janeiro, da impaciência dos educadores frente a um trabalho cujos resultados são lentamente organizados, da perplexidade destes mesmos educadores ao perceberem que não são eles que detêm o poder de ditar regras, das crianças confusas entre o exercício da liberdade e o “posso fazer o que quiser”. Três meses nos quais aprendemos, aprendemos e aprendemos dia a dia, nos quais conquistamos a confiança de muitas crianças – e alguns adultos -, cozinhamos, argilamos, pintamos, desenhamos, jogamos bola e capoeira, fizemos yoga, brincamos, rimos, dançamos, estudamos, conversamos sobre namoro, sexo, liberdade, respeito, harmonia, convivência, relações familiares, meses em que também escabreamos e fizemos as pazes; três meses nos quais a casinha do Projeto se encheu de risos, gritos, principalmente nos dias de chuva muito forte quando a escola não abria.

Desde os primeiros encontros, há muito tempo, para a elaboração inicial do Projeto de Gente dizíamos que, antes de qualquer coisa, precisaríamos de gente, gente que acreditasse naquela proposta de trabalho.

Pois bem, hoje dizemos o mesmo e, por isso, mais que nunca, precisamos conseguir recursos para que estas pessoas estejam o mais profundamente possível satisfeitas e felizes em suas atividade no projeto de Gente. Satisfeitas consigo mesmas, com a qualidade da inter-relação entre todos os participantes do projeto e com a possibilidade de entrega ampla e despreocupada ao dia a dia do trabalho.

Precisamos jogar energia para obter estes recursos. Gente temos, aqui em Cumuruxatiba e fora daqui, faltam recursos financeiros para pagar os salários e adquirir material.

Neste mês de dezembro estamos organizando a festa do dia 09 de janeiro de 2008. Esta festa tem a exata finalidade de divulgar o Projeto de Gente num momento em que Cumuruxatiba está repleta de veranistas e, assim, aumentar a chance de alcançar o coração de pessoas com possibilidades e desejo de investir no trabalho. Também vamos tentar levantar fundos para necessidades imediatas (conserto da caixa d’água, por exemplo).

Esta festa surgiu do generoso oferecimento, através do Rico Belúcio – dentista em Cumuru e também músico de 1ª qualidade -, de um show do grupo A fábrica da Arte – do qual ele faz parte -, em favor do Projeto de Gente.

Sobre esta festa falaremos nos “Diários” de janeiro de 2008!