domingo, 10 de agosto de 2008

JULHO DE 2008

Julho de 2008 foi um mês praticamente destinado à organização da festa junina do Projeto de Gente. Um meio mês, pois já havíamos confirmado a decisão de seguir as férias – e feriados – das escolas de Cumuruxatiba. As férias começariam em 18 de julho.

Assim, combinamos a festa para o dia 19 de julho – o sábado seguinte ao último dia de aulas nas escolas.

Uma das principais motivações desta festa era conseguir a reunião do máximo de pais, mães e responsáveis pelas crianças que freqüentam o Projeto. Com este objetivo foi elaborada uma carta a ser levada para casa por todas as crianças.

Ficou assim:

Aos pais, mães ou outros responsáveis pelas crianças e jovens que freqüentam o Projeto de Gente

Caros amigas e amigos,

Este ano o pessoal do Projeto de Gente tem um grande desejo: aproximar-se mais das famílias das crianças e jovens que freqüentam o Projeto.

Como tentamos criar um espaço onde as crianças aprendem coisas importantes para sua vida num ambiente de alegria e bem estar, nada melhor do que uma festa para nos colocar mais pertinho uns dos outros.

E, nesta época do ano, também nada melhor do que uma festa junina: um arraiá. Como será nosso primeiro arraiá, ele será bem pequenininho, bem simples.

Um Projeto de Arraiá: uma fogueirinha, uma pequena quadrilha, barraquinha, comidinha e bebidinha...

Todas as crianças e adultos que participam do Projeto de Gente estão convidando vocês para construir a festa juntos!

Se puder marque, aqui em baixo, uma colaboração que você pode dar para a festa:
( ) um bolo ( ) cocadas ( ) pamonhas ( ) refrigerante ( ) suco ( ) batata-doce p’ra assar na fogueira ( ) banana da terra também para assar na fogueira ( ) outra gostosura qualquer

Marque e peça para a criança trazer o papel para o Projeto.

Mas, lembre-se, não é nada obrigatório, a maneira mais importante de participar é vindo na festa p’ra gente se divertir, conversar e se conhecer mais.

Se você também quiser participar fazendo bandeirinhas, barraquinha, estas coisinhas de arraiá é só vir na casinha do Projeto que a gente pode arrumar tudo junto.

Escolhemos o dia 19 de julho, um sábado, para fazer a festa. Ela vai começar lá pelas 5 da tarde que é p’ra não acabar muito tarde, mas pegar um pouquinho da noite e da luz da fogueira.

Um cordial abraço do

Pessoal do Projeto de Gente

Como vocês perceberam o nome de nosso arraiá ficou sendo, por conta de suas singelas dimensões: O Projeto de Arraiá.

Resolveu-se, em roda, que haveria casamento na roça, quadrilha, barraquinha de pescaria e de comidinha. Foi também decidido que as comidinhas seriam gratuitas uma vez que iríamos recebê-las como presente das pessoas – não era uma festa com o intuito de levantar recursos financeiros – e presente não se vende.

Há algum tempo havíamos ganhado um saco de objetos – prendedores de cabelo, alguns óculos escuros, carteirinhas, etc. Em várias ocasiões foi sugerido um uso para estas “coisinhas”, porém nunca se configurou um bom momento para isso. Parece que os objetos estavam mesmo esperando o bom momento, pois se transformaram em ótimas prendas da pescaria. Já fazia tanto tempo que havíamos ganhado este presente que não nos lembramos exatamente quem foi a pessoa que nos ofertou as prendas da barraquinha de pescaria. De todo jeito, quem quer que seja e esteja onde estiver, receba nosso agradecimento.

Os dias foram dedicados à preparação da festa: ensaios de quadrilha, construção das barraquinhas com palha de coqueiro e bambu, fabricação e colocação das bandeirolas feitas com papel de revistas – e que foram, depois da festa, guardadas para a fabricação de papel reciclado no fim do ano –, produção dos cartazes para indicar onde estava o que. As pessoas que quiseram trabalhar na organização escolheram o que mais gostariam de fazer, formaram equipes e puseram mãos à obra. No início tínhamos a impressão de que não conseguiríamos concretizar o planejado. Muita dispersão, uma certa falta de compromisso com as combinações. Foi, então, convocada uma roda extraordinária em que se discutiu a possibilidade de não haver festa por conta destas questões. Neste dia, era a terça-feira (15) imediatamente anterior à festa, todos compreenderam que faltavam apenas 3 dias para o sábado e que, naquele ritmo, não teríamos a festa. Um organograma foi votado: dia 16 – construção das barraquinhas; 17 – ensaio intensivo do casório na roça e da quadrilha e no dia 18, sexta-feira, ensaio geral e organização dos detalhes que faltassem. Aí sim, no meio de muita brincadeira, jogos de xadrez, jogo da viúva-viúvo, pulação de corda e o que mais quiséssemos, a festa apareceu frente aos nossos olhos.

Foi exato nesta época que recebemos a visita da Carol e do Luís, de São Paulo. Ela trabalhava na Escola Lumiar, em 2005, onde fizemos a formação em Educação Democrática. Hoje, ela e Luís, trabalham na organização de uma escola democrática junto com outros 7 parceiros - entre eles a Helena Singer, nossa grande amiga.

Carol trabalhou efetivamente na produção da festa e deixou sua marca em várias crianças que comentaram por muitos dias sobre as brincadeiras que ela ensinou. Comentaram e brincaram - brincam. Luiz, infelizmente, precisou voltar antes para São Paulo; entretanto, tivemos conversas muito produtivas e estimulantes para nós. Entre os temas: a possibilidade de Cumuruxatiba, o Projeto de Gente, receber o próximo encontro nacional de Educação Democrática, em julho de 2009.

Há poucos dias recebemos o boletim de julho da Politeia – organização a que estão vinculados Carol e Luiz.

Aqui vai a transcrição de um trecho do Boletim:
“REDE DE ESCOLAS e ONGs PELO BRASIL
A Politeia mantém sua política de troca de experiências e colaboração com escolas e organizações não governamentais voltadas para a transformação da educação no Brasil. No primeiro semestre deste ano, trocamos visitas e mantivemos contatos eletrônicos com o Projeto Amanamanha, em Garopaba, no litoral catarinense. A Amanamanha está construindo uma escola sustentável e democrática em espaço onde atualmente desenvolve projetos educativos apoiados em técnicas de permacultura como a construção de banheiro ecológico, com reaproveitamento de água da chuva, e produção de sabão com o óleo de cozinha usado dos próprios integrantes do projeto.
O segundo semestre aprofundamos nossa colaboração com o Projeto de Gente, em Cumuruxatiba, na Bahia, visitando este belo lugar. Numa casa modesta, cinqüenta crianças de 6 a 14 anos passam as tardes onde ocorrem atividades livres de xadrez, artes, culinária e jogos e brincadeiras, organizadas pelos mestres voluntários e coordenadas pelo médico-educador Alexandre Cavalcanti. A gestão do projeto é feita por todos nas Assembléias semanais, questões corriqueiras são resolvidas nas rodas diárias e qualquer evento de maior importância é levado ao foro de discussão nomeado de Debate. Com o tempo, almeja-se transformar o Projeto de Gente em mais uma escola democrática no Brasil.”
Conheça mais sobre a Politeia acessando www.politeia.org.br.
A pequena temporada da Carol entre nós reforçou a certeza da necessidade de termos educadores com experiência no dia a dia com as crianças. Reforçou, portanto, a certeza da necessidade da profissionalização do Projeto de Gente. Precisamos nos esforçar para conseguir recursos para pagar os salários de pessoas que tenham o conhecimento dos conceitos do Projeto de Gente e que também possuam prática no contato com crianças.
Mas, vamos voltar para a festa...
De cara, fomos surpreendidos com a quantidade de crianças. Nós não havíamos feito nenhum anúncio, a não ser para os responsáveis pelas crianças do Projeto.
Novamente a questão do tamanho da equipe se apresentou: faltava gente para dar conta de tudo o que era necessário. Entretanto, uma, também inesperada, circunstância aconteceu. Como houve um bom comparecimento de pais e mães, eles – na verdade, elas – se organizaram na cozinha e as comidinhas foram ficando prontas. Crianças e adultos também se organizaram nas barraquinhas e as pipocas, copinhos de caldinho de mandioca, mungunzá, bolos, cocadas, sucos e refrigerantes foram saindo.
Aprendemos muito sobre como organizar a próxima festa.
O casório foi uma beleza! Muito engraçado. Dias antes havíamos escolhido uma historinha que fugia da velha confusão do noivo que já era casado e do delegado com arma na mão obrigando o noivo a se casar. Quem sabe não publicamos, em alguma seção do blog, o roteiro da peça? O casamento terminava com um baile que era aberto pela quadrilha. Aliás, uma grande quadrilha com 17 pares. Toda a seqüencia da quadrilha também foi elaborada em conjunto e o Alexandre – que cantou os passos – foi severamente advertido por ter se esquecido do “beija-flor” (realmente uma pena porque este é um dos passos mais bonitos de uma quadrilha).
Enfim, mais um passo havia sido dado. Como sempre com erros e acertos, o aprendizado do cotidiano, aprendizado no qual mestres e aprendizes se fazem aprendizes e mestres. A expressão “escola da vida”, surrada e, por isto tantas vezes subvalorizada, vai ganhando, para nós do Projeto, seu mais profundo sentido. Nela vamos aprendendo a – tentando – transformar uma certa erudição – de fato, mais “decoreba” – ganha nos bancos de escolas, na leitura de livros, recolhida nos caminhos do pensamento, da razão, em outra substância mais viva, humanizada, quiçá mais sábia, certamente mais pulsante.
Outra visita que nos trouxe imensa alegria foi a do Jorge, Fátima – ativos associados da Associação Projeto de Gente e donos da Papelaria Rainha de Fátima, do Rio de Janeiro – que, ano passado, fizeram uma importantíssima doação de material. Vieram com a Clarice e a Maíra, duas lindas jovens cheias de alegria e graça. Infelizmente, o Projeto já estava em recesso quando eles chegaram. Entretanto, recebemos a seguinte mensagem pelo correio eletrônico:
CHEGAMOS!!!!!
Cumuru é um lugar único:
Crianças em abundância
Projeto de Gente caminhando;
Pessoas bacanas;
Um amigo especial;
Foi uma viagem muito legal, apesar de ter sido muito rápida;
Vimos na prática o Projeto acontecendo , (apesar de não termos chegado a tempo de ver a casa funcionando, sentimos a energia das crianças e a força do trabalho)
"A casinha do Projeto"
Com seus móveis construídos artesanalmente/amorosamente,
com seus espaços já tão definidos:
uma sala para biblioteca/sala de estudos,
uma sala para oficina de artes,
uma cozinha generosa para oficina de culinária,
uma sala para roda.
E o quintal?????
cajueiro, mangueira e pitangueira e uma horta em construção...
e um lindo forno para completar.
Idéias se multiplicando:
Casa na Árvore...
Mesa de pingue-pongue...
Que tal?
Uma rede de Vôlei ou Peteca ou ambas...
Quantos sonhos e quantos projetos...
Vamos lá amigos.
Vamos insistir...
Chegaremos!!!!!
Um forte abraço.
Beijos Saudosos!!!!
Jorge/Fátima

O título da mensagem era: Viagem Maravilhosa... Mais uma “lenha na fogueira” que aquece e ilumina o trabalho aqui em Cumuruxatiba.

Notícias: o Jef, Ioane e Jonas doaram um jogo da memória e outro chamado Uno. O Dr. Begara tomou a iniciativa de, atendendo particularmente a eventuais turistas, não cobrar seus honorários, e sim sugerir uma doação ao Projeto de Gente. Begara e Eliana, sua esposa, já são mais dois “projetista”! Foi deste modo que recebemos a doação de R$50,00 de Marcelo Neves. Obrigado, amigo! Recebemos também a doação de R$400,00 de Maria Cristina Bó. Muito obrigado, Cristina! Recebemos um telefonema da Lourdinha, coordenadora do Compartilharte, um espaço de trabalho desenvolvido em Teresópolis, estado do rio de Janeiro. Há alguns meses, escrevemos um texto inspirado em seu excepcional trabalho. Para conhecer mais e melhor, acesse www.espacocompartilharte.org.br... Vale muito à pena! Nós, sem dúvida, vamos manter contato e trocar experiências.
No próximo dia 04 de agosto, como sempre às 13h, reiniciamos as atividades. Aguardem o diário de agosto – mês de aniversário do Projeto de Gente em Cumuruxatiba, sul da Bahia...