domingo, 24 de maio de 2009

MARÇO DE 2009

Fim do verão e a vila retoma seu ritmo mais comum. Esta retomada é súbita, acontece quase que de um dia para o outro. Ontem, carros, muitos carros, buzinas, zoada dos motores, pessoas andando por todos os lados, várias lojas e restaurantes abertos; hoje, o caminhão do lixo, o transporte escolar, pessoas conhecidas se cumprimentando, dois ou três restaurantes abertos todos os dias, o atelier da Renata Homem e a Barraca do Régis também abertos, assim como o lanche do 14 e o da Lucinha, a confecção de D. Belinha e o Arte sobre Arte nos fins de semana, algumas pousadas fecham as portas até o próximo verão.
A vila, suas belezas, seus problemas, será o cenário do cotidiano de um grupo de pessoas que ocupam, se tanto, metade de um quarteirão do Rio de Janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte e Salvador.
As crianças do Projeto de Gente iniciaram as atividades com encontros na frente daquele terreno que havíamos limpado, lembram-se? (está no relato de janeiro/fevereiro). Começamos ali, debaixo de uma mangueira, pois havíamos combinado o reinício do Projeto junto com as aulas. Ali tivemos as primeiras Rodas de Combinações; soubemos quem, de fato, havia se mudado para outras cidades; decidimos – importante! - que haveria um pequeno grupo pela manhã, pois alguns meninos e meninas passaram a estudar à tarde e solicitaram esta possibilidade; definimos em 30 o número total (manhã/tarde) de meninos e meninas; o grupo da manhã resolveu, junto com a Cristina Leme – nova colaboradora -, revitalizar o blog do Projeto e fazer um jornal. Ali também comunicamos às crianças sobre o novo terreno no Cantagalo e combinamos um pic-nic lá em 7 ou 8 de março.
O encontro aconteceu com cerca de 15 crianças, 3 educadores e a Lucia da Pousada Cantoria que ofereceu sanduíches de ricota. Conhecemos o terreno, nos defrontamos com suas desvantagens e curtimos as vantagens. Deste dia em diante passamos a nos reunir ali, agora debaixo de um carregadíssimo pé de jamelão, de segunda a quarta-feira, manhã e tarde. Aos poucos o grupo foi tomando forma.
Paralelamente, o grupo de educadores realizou encontros para organizar o jantar dos amigos do Projeto, aperfeiçoar o demonstrativo financeiro e fortalecer a Associação Projeto de Gente – na próxima gestão duas ou três pessoas de Cumuruxatiba farão parte da chapa.
Dois acontecimentos, inesperados talvez, se uniram para apontar novas rotas para o Projeto, pelo menos do ponto de vista mais visível: (1) o sucesso da Campanha do 1% e (2) a possibilidade de aluguel de uma casa muito adequada ao Projeto de Gente.
Vamos por partes: o resultado financeiro da campanha foi acima do esperado (ver o demonstrativo financeiro) e pudemos fazer uma reserva – talvez pela primeira vez. Por outro lado, uma amiga desocupou uma casinha ótima para as demandas do trabalho – dois cômodos independentes com banheiros, cozinha com fogão e geladeira, uma varanda coberta e, na frente, um campo de areia para vôlei e/ou peteca. Praticamente todos os espaços se interrelacionam através de janelas e portas formando, deste modo, uma estrutura, até mesmo fisicamente, comunitária. Além do mais, a casa tem uma bela localização. Com a reserva financeira garantida resolvemos contatar a proprietária. Um aluguel de 280 reais foi combinado a partir de abril de 2009.
Na última semana de março iniciamos a mudança da velha para a nova casinha do Projeto de Gente – a nova sede. Estamos, todos, bastante contentes e com a boa sensação de passos para frente e, em também boa, direção.

JANEIRO E FEVEREIRO DE 2009

O verão começou com muita chuva e preocupação para os moradores da vila, pois a vida econômica da comunidade gira em torno do turismo nesta época do ano. Chuva muito forte espanta os turistas e, ainda por cima, destrói a estrada de acesso para os fiéis visitantes de Cumuruxatiba.
No Projeto, o movimento foi no sentido de se encontrar a melhor solução para o problema da nova sede. Já havíamos decidido que seria melhor iniciar as atividades de 2009 já em um novo espaço. Entretanto, encontrar uma casa em Cumuruxatiba nesta época do ano é bastante difícil – aluguéis altos, raros e apenas por temporada
Um terreno muito bem localizado, na praia, nos foi oferecido por um ano. Chegamos a realizar a limpeza do local; porém, ficou claro que o custo para deixar aquela área em condições mínimas é muito alto. Outro belo terreno, no Morro do Cantagalo, nos foi oferecido por um casal de amigos. Um terreno, em declive mas muito bonito, com uma casinha pequena. Outros amigos, o Walter e a Dolores, nos deram uma lona redonda – cerca de 8 metros de diâmetro – para ser armada ao lado da casinha. Um problema é que a casinha está ocupada e apenas estará livre em meados de abril. Até lá podemos trabalhar o próprio terreno que precisa ser, em parte, aplainado para receber a tenda. De todo jeito – um pouco por falta de opção – o martelo foi batido: ali será instalado o Projeto de Gente.
Neste meio tempo, o Begara, sempre atento às necessidades objetivas, trouxe a proposta de se organizar um grupo de pessoas amigas do Projeto que se reuniriam mensalmente com o compromisso de, presentes ou não, arrecadar uma quantia. Esta seria uma quantia fixa e certa para as necessidades materiais do trabalho; além disto, este grupo de amigos reunidos em torno de um propósito comum estará alimentando o Projeto de Gente com uma outra qualidade de demanda: subjetiva e identificada com o coração.
Fevereiro terminou com belos dias de sol e uma definição em relação ao local da nova sede do Projeto de Gente que exigirá muito trabalho e determinação.

DEZEMBRO DE 2008

Dezembro de 2008, mês curto, pois as férias escolares estão à vista, no horizonte. A apreensão de muitas crianças quanto à aprovação ou não é palpável. As férias podem começar com tempo fechado, tempestades ou sol aberto.
No Projeto, mês de transformações: pintamos as paredes, portas e janelas; também trocamos duas janelas que estavam corroídas por cupins. Deixamos a casinha bem bonita para entregá-la, com a marca do nosso agradecimento, ao Daniel e Letícia. Ao mesmo tempo iniciamos a busca por um novo espaço. As idéias que predominam a este respeito são: (1) conseguir um lote, em regime de comodato, e ali construir uma estrutura circular, sem divisões internas mas protegida dos ventos. Neste espaço, comunitário e democrático, aconteceriam certas atividades – as internas -, enquanto que, no ao redor, ao ar livre, outras. A segunda idéia é (2) é tentar o aluguel de uma casa. Talvez esta seja a possibilidade mais prática e, até mesmo, mais econômica; porém, sem os encantos da primeira. Vamos a ver!
Outra circunstância marcante em dezembro foi a definição do grupo de 2009. Como referido no diário de novembro, estamos, desde outubro, discutindo, em roda, a necessidade de equilibrar a balança “número de educadores/número de meninos e meninas” no Projeto de Gente.
Pois bem, uma das meninas, a Sula, apresentou a única e difícil solução – fato também já relatado no diário de novembro. Cada participante do Projeto responderia a duas perguntas: “Quem eu gostaria de ter ao meu lado no Projeto 2009?” e/ou “Quem eu percebo são as pessoas que mais curtem o Projeto? Aquelas que estão mais envolvidas, mais ligadas ao dia a dia do Projeto”. Os critérios que Sula estava propondo eram, portanto, afinidade e interesse – dois muito bons critérios para a organização de um grupo.
Conversamos, conversamos, conversamos e... conversamos. No dia 13 foi feita a definição do grupo. Alguns estavam tensos, outros apenas se deram conta do que realmente significava tudo aquilo ao terem na sua frente a lista de cerca de 60 meninos e meninas. Destes apenas 30 estariam juntos em 2009. Difícil, muito difícil! Seria mesmo este o melhor mecanismo para se lidar com a questão?
Conforme decidido por todos, o voto poderia ser secreto ou não – decisão de cada um. Alguns se retiraram para um cantinho; outros resolveram se apoiar mutuamente e o grupo foi definido. De fato sabemos que ainda será preciso um reajuste, pois, pelo menos, duas crianças que estão na lista não estarão em Cumuruxatiba no ano que vem.
Naquela noite um dos educadores do Projeto conversou com um velho sábio e lhe perguntou o que significava tudo aquilo. Ele respondeu: “É um ponto de transição, uma encruzilhada com o sol levantando-se ao fundo. Trata-se de um movimento renovador, uma energia construtiva que surge, porém ainda em broto. Representa também um movimento de cuidado com a raiz, um movimento de proteção que deve ser paciente e suave, pois esta é a única maneira de garantir seu crescimento, neste momento de fragilidade. Trata-se de uma dinâmica de desenvolvimento interno, sutil, uma pequena faísca que, mesmo tênue, deixa um lastro indelével, o despertar de um embrião luminoso e silencioso. Um aprendizado e desenvolvimento em direção à meta almejada e ainda distante”.
Para fechar: o Luiz e a Milena, da Pousada Rio do Peixe, nos apresentou uma linda idéia. Eles vão propor a seus hóspedes do verão de 2009 que acrescentem 1% ao valor total de suas diárias. Este 1% será destinado ao Projeto de Gente. Eles também sugeriram que procurássemos outros pousadeiros para saber se gostariam de entrar nesta onda. Luiz e Milena são, de fato, grandes amigos do Projeto de Gente. Seis outros aceitaram a sugestão. Obrigado, amigos!
E até 2009!