sábado, 11 de julho de 2009

Abril/2009

Abril abriu com a perspectiva da nova sede e muita, muita chuva. A vila ficou cerca de seis dias sem energia elétrica. Voltamos à era das velas, falta de geladeira, televisão, rádio, comunicações prejudicadas. Ruas enlameadas, acessos para a parte alta da vila forma se desmanchando. Em certo momento começou a preocupação com a possibilidade da falta de água e mesmo de comida, pois, sem refrigeração, ou se consumia rapidamente o alimento ou ele se estragava.

Quando a chuva dava uma trégua nos reuníamos debaixo do jamelão – aliás, carregadíssimo – no terreno do Cantagalo. Mais de uma vez o toró caiu e era criança para todo lado, correndo para casa.

Finalmente, - negócio fechado! – iniciamos a arrumação do novo espaço. O Nitão – grande e já mencionado amigo do Projeto –, a Eliana, o Begara e o Alexandre foram os educadores que se revezaram na pintura de portas, janelas e paredes; cada dia um tanto de meninos e meninas aparecia para fazer suas marcas.

O problema do número de participantes voltou a se manifestar. Muitos meninos e meninas foram chegando de mansinho. Alguns já conhecidos e que, por variados motivos, não compareceram nesta fase de atividades; outros novos – muitos vizinhos da nova sede. É sempre muito difícil mostrar para eles a necessidade de sermos mais firmes na formação de um grupo com um número certo de participantes; difícil mostrar o quanto precisamos cuidar deste solo inicial, embrionário, que ainda precisa ser muito arado, adubado, para que as fases seguintes possam ser melhor desenvolvidas; difícil explicar que vivemos um verdadeiro rito de iniciação, isto é, construímos um processo onde o saber é aprendido – e apreendido – através da vivência cotidiana. Uma vivência do que nunca foi vivido por nenhum de nós, uma vivência insegura, pois não há um método experimentado e consagrado. Existem, é certo, experiências outras que nos alimentam e inspiram, porém não são a nossa experiência. Cada Projeto de Gente a ser desenvolvido em qualquer outro recanto trará sempre um novo rito a ser vivido. Cada grupo de educadores será um novo grupo, cada grupo de crianças também é sempre novidade, assim como cada comunidade educadores-crianças será sempre diferente, particular, singular.

Em 25 de abril foi inaugurada a nova sede do Projeto de Gente em Cumuruxatiba. Na Roda de Combinações um tanto informal que se organizou foi possível, mais uma vez, constatar a necessidade de um imenso e paciente trabalho para que, pouco a pouco, a roda – ainda quadrada – vá ganhando sua forma mais confortável, redondinha. Vimos adultos e crianças desrespeitando a combinação básica de ouvir o que um componente está apresentando (como já disse alguém: “diálogo existe quando um ouve”); percebemos a falta de costume em ocupar um espaço com sua opinião própria; nos demos conta da impaciência com aquele que parece precisar ser o centro das atenções – do roda, portanto –; da irritação; da tendência de se cair logo na “facilidade” da punição, de “passar um sermão”; sentimos também a dificuldade que é saber o tempo que leva para se ter certeza de que uma certa metodologia é inútil.

Enfim, na inauguração, tocamos, todo o tempo, no tema do parágrafo anterior: iniciação, vivência. Uma vivência que é, ao mesmo tempo, uma iniciação, pois é uma aprender fazendo, um acertar errando. Uma vivência que, ao contrário da aplicação de uma “decoreba” apenas racional, se faz em um clima carregado de emoções e sentimentos, histórias de vida e singularidades.

Enfim, um barco navegando sobre uma correnteza – às vezes leve, outras turbulenta – de emoções, tocado por um vento nem sempre suave e muitas vezes inesperado e, ainda por cima, guiados por um mapa cheio de hiatos. Uma aventura, uma bela aventura! O problema é que, no tal mundo moderno, não se abrem muitos espaços para aventuras. Parece que todos preferem o conhecido, o padronizado, o que está na moda.

Participantes do Projeto de Gente - Cumuruxatiba

Educadores em Campo
Eliana, Cristina, Shal e Alexandre.

Educadores de Apoio
Begara, Ângela, Renata e Dolores

Meninas e meninos
Manhã
Ioane, Ismael, Cleiton, Sula, Sol, Flávia, Fabiana, Alan, César, Fernando, Ana Paula e Fabiane.

Tarde
Sabrina, Mávila, Abimael, Stefany, Olívia, Flávio Dinei, Weber, Maciele, Mireli, Flavinho, Jaqueline, Laiara, Luli, Sol, Douglas, Natália, Carol, Alexandra e Mábia.

Lista de Espera (da qual, pelo menos, seis estão sempre por lá)
Naiane, Robson, Graziele, Mariana, Peterson, Daniel, Lucas, Willian, Jonatas, Jaísa, Madson, Ornan, Sara, Luiza e Nina.

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