quinta-feira, 23 de setembro de 2010

março de 2010

Diários de Cumuruxatiba
março de 2010


Em fins de fevereiro a vila amanheceu com este cartaz espalhado pelos tradicionais e democráticos pontos de avisos, recados e convocações:



NOVIDADE NO PROJETO DE GENTE

Em 2010, estamos abrindo um grupo para crianças de 3 a 5 anos de idade.

Vagas: 08

Os pais, mães ou responsáveis interessados devem comparecer na sede do Projeto de Gente na Rua Santo Antônio (em frente ao Tadeu e ao Restaurante da Isabel) nos dias 22 e 23 (segunda e terça-feira após o carnaval) das 17:00hs às 19:30hs.

No dia 1º de março, lá pelas 8:30h da manhã, chegavam a Eloah, o Jeremy, o João, o Jonatan, o Kevin, o Oton, o Sávio e o Theo. Aqui, em ordem alfabética; lá, na deliciosa des-ordem das crianças; para nós, iguais no direito à atenção, ao cuidado, ao respeito em relação aos seus projetos de ser, de existir, todos únicos.

Logo na entrada pudemos sentir a imensa responsabilidade assumida pelo Projeto de Gente: era palpável a emoção de mães e pais trazendo seus filhotes para um ambiente outro, diferente de suas já bem conhecidas casinhas. Todos estavam bem cientes que o Projeto não é uma escola; entretanto, a energia circulante (bom exemplo para um certo uso desta complicada palavrinha: energia) era a de primeiro dia na escola.

Crianças de olhares atentos, coladinhas aos pais e mães, mochilinhas nas costas, sacolinhas nas mãos. Uns mais introvertidos, quietos – exploradores visuais –, outros mais expansivos, inquietos – exploradores táteis. Aqui, um concentrado; ali, outro devaneador. Um falante, outro, escutador. Um gesticula amplo, segredos por detrás; em outro o gesto é quase secreto, segredo a ser desvendado. Todos desenhistas, escultores, pintores, construtores; cada um, um desenho, uma escultura, uma pintura, uma construção – uma revelação. Verdes, traços, círculos, caras e bocas, vermelho, azul e amarelo, sóis e luas. Risos, choros, gargalhadas, conflitos, arranjos, rearranjos. Areia, baldes e água. Música, dança. Chuveirada – viva o sol do sul da Bahia! - e lanche. Histórias contadas e ouvidas, olhos brilhando. E o primeira manhã da turminha dos pequeninos passou rápida.

Uma; duas; três; quatro semanas e mais três dias. 23 dias. Primeiro mês.


O ano de atividades do Projeto de Gente em 2010 abre com uma compreensão mais clara do trabalho. Na misteriosa sincronicidade da lei natural, a chegada da Ana Lúcia e a organização da turma dos pequeninos – a Oficina dos Pequeninos – é a corporificação de um melhor entendimento do trabalho no Projeto de Gente.

Os pequenos, e para os desabituados em aprender com pequenos pode parecer paradoxal, trazem organização ao trabalho. Eles são, sem peso ou cobranças sobre seus ombros, campo organizacional e de florescimento para a continuidade do Projeto de Gente, pois exigem atenção e cuidados naturais e específicos. Ao cuidarmos de cuidar deles, somos, naturalmente, obrigados a nos cuidar; somos obrigados a atentar para novos – e muito pessoais – limites; somos obrigados a rever o que é cuidar, o que é obrigar; a fazer a distinção entre apresentar e impor, entre ser duro, flexível e firme, entre habituar ou incorporar, conscientes, atitudes de saúde que nosso corpo pede (lavar os dentes e mãos, por exemplo). Com eles – os pequenos – vamos aprimorar a rede de proteção que tentamos, dia a dia, estender por debaixo das brincadeiras, conversas, oficinas e jogos no Projeto; com eles vamos aperfeiçoar a aproximação com os pais e mães, avós, avôs e tios. Afinal, um carinha de 8 anos ou mais vem só para a casa do Projeto, mas o de 3 a 5 só vem com alguém.

Os nomes dos pequeninos já estão lá em cima. Os maiores de 2010 são: Jéssica, Laiara, Marina, Talita, Thiago, Igor, Matheus, David, Douglas, Ester, Lucas, Nathalia, Gabriel, Ramon, Messias, Peterson, Ornan, Vitor, Flávio, Flavinho, Sara, Stefany, Sabrina, Daniel, Isaías, Jaqueline, Larissa, Patrick, Flávia, Natan, Gladstone, Alexandra, Douglas Costa, George, Lucas, Dilermano, Fabiane, Ana Paula, Abimael, Mávila, Sulamita, Cleiton.

Quanto aos maiores, em março, pareceu que estavam um tanto enciumados em relação aos pequeninos. Apesar das conversas durante o mês de fevereiro e todas as rodas do mês, eles reclamaram do espaço diminuído, do material exclusivo, das frutas incluídas no lanche dos menores. E, mesmo com todas estas circunstâncias debatidas e resolvidas em comum acordo, o certo é que um certo movimento foi ficando claro: um grupo – minoritário, mas, como de costume, contando com o silêncio da maioria – de pessoas passaram a, gradativamente, descumprir combinações propostas. Combinados simples – como lavar os copos depois do uso – ou outros mais importantes – desrespeito agressivos, implicâncias aparentemente sem sentido. Um descumprimento claro, sistemático e, até mesmo, ostensivo. Esta não é uma observação absoluta, não é completamente clara a inter-relação entre estes eventos; porém, não é possível deixar de juntar coisas. Vamos observar mais.

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