segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Agosto/ 2010

Três anos de atividades. Três anos de erros e acertos. Três anos de aprendizado. Mais de 120 meninos e meninas passaram pelo Projeto de Gente neste período. Destes, muitos, quase todos, se sentem ainda pertencentes a este espaço. Alguns presentes com muita regularidade, outros mais distantes. Motivos do afastamento: cresceram, motivaram-se por outros movimentos, mudaram de cidade, perderam o interesse pelo que existe no dia a dia do Projeto, uma teve um filhinho, outros estão trabalhando...


O que conquistamos nestes anos? Confiança dos meninos e meninas. Apesar de termos muitas dificuldades no contato com as famílias, percebemos também – pelo fato de permitirem a ida de seus filhos - um grau importante de confiança.


O que não conquistamos? Muito; porém, o mais importante: não conquistamos uma estrutura verdadeiramente democrática. Ou melhor, os meninos e meninas não conseguiram romper suas resistências quanto ao processo democrático de conversação e negociação das questões coletivas. É certo que alguns adultos também tiveram dificuldades de abrir mão de condutas dominadoras.


O que comentaremos, a seguir, é o resultado de observações, muita conversação; também vamos escrever sobre os rumos que estamos propondo ao Projeto de Gente em Cumuruxatiba.
 O Projeto de Gente, em seu formato atual, não poderia ser de presença obrigatória, sob pena de afastar os meninos e meninas que, por conta de variadas e naturais situações, não podem garantir tal assiduidade. Foi, exatamente, a flutuabilidade na frequência cotidiana no Projeto e a percepção de que a estrutura democrática ficava comprometida sem uma participação mais estável que os educadores colocaram em pauta a transformação do Projeto de Gente na Escola Projeto de Gente.

Agora, estamos seguros de que este é um passo à frente no desenvolvimento do trabalho em direção às metas do Projeto.

Resumindo, acreditamos, ou melhor, estamos convencidos de que, por conta da natural necessidade de presença das meninas e meninos, a escola promove um:
            - Melhor campo para a  vivência da dinâmica democrática. E assim, com a prática democrática todos poderão perceber melhor o valor do comportamento solidário. Nesta circunstância, cada um aprende que é responsável por si e também pelos demais. A lei natural da cooperação e solidariedade prevalecerá em relação à lei da competitividade.
            - Melhor campo para interação e observação do Processo de Individuação de cada um dos integrantes do Projeto. Um lugar onde poderemos perceber melhor quem cada um é, e respeitá-lo em sua maneira de ser. As pessoas são semelhantes entre si; semelhantes, não iguais. Nem todos têm as mesmas habilidades, interesses ou mesmo sensibilidades absolutamente iguais. Apesar de cada ser humano possuir tudo o que outro possui, em cada um, estes elementos se organizam de maneira única, singular. É preciso que as crianças possam reconhecer sua pessoalidade – e a do outro – para, assim, perceber que nenhum é melhor – e nem precisa ser – do que ninguém. Neste lugar será possível conhecer a liberdade como uma prática onde não se faz, simplesmente, o que se quer, mas, uma prática onde se faz o que se quer junto ao outro, com o outro.
            - Oferecer uma prática pedagógica em que os estudantes definirão, com os professores, sua trajetória de aprendizado, apoiados em interesses concretos.
            - Oferecer uma alternativa à escola tradicional na qual o estudante encontra um ambiente extremamente disciplinador, com escolhas quase sempre reduzidas a cumprir – ou não – tarefas que lhe são impostas; onde precisa cumprir metas e performances estabelecidas, frequentemente, sem atenção às particularidades de cada pessoa. Um lugar onde ou cumprem estas tarefas ou serão punidos e reprovados.

Na verdade, desde 2005, temos esta convicção. Apenas não entramos em Cumuruxatiba como escola por termos percebido, depois do contato com as três escolas municipais da vila, que este não seria uma boa maneira de apresentar os conceitos e a filosofia de nosso trabalho. A atitude extremamente dedicada de alguns dos profissionais das escolas revelou o melhor caminho para o Projeto de Gente na Vila de Cumuruxatiba.

Agora, três anos se passaram; temos mais clareza do universo em que vivemos; conhecemos mais seus habitantes; sabemos mais de suas questões e necessidades; de seus anseios e peculiaridades.

Uma nova etapa se abre. Etapa carregada de trabalho e responsabilidade; porém, etapa necessária e possível.

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